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Cáritas Brasileira realiza em Manaus mais uma etapa de formação em Gestão de Riscos e emergências.

Áreas de Atuação

Agentes Cáritas do Inter Norte participaram dos três dias de formação, que contou com metodologias integrativas e participação popular.

Publicação: 05/04/2023



Participantes da oficina na comunidade do Beco do Pescador, no bairro Mauazinho, em Manaus. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Em continuidade ao ciclo de formações para sensibilização, mitigação e enfrentamento aos desastres ambientais, entre os dias 30/03 e 01/04, em Manaus-AM, foi realizada a terceira etapa da Oficina “Trilhas para Construção de Comunidades mais Seguras”, facilitada pela equipe de assessoria nacional da área de atuação em Meio Ambiente, Gestão de Riscos e Emergências (MAGRE) da Cáritas Brasileira.


O momento contou com a participação de agentes Cáritas representando as Articulações e Regionais do Inter Norte. A reflexão comunitária socializada entre as pessoas participantes da oficina foi fundamental para pensar em estratégias de multiplicação dos conhecimentos partilhados por meio do uso do Jogo das Trilhas, ferramenta metodológica utilizada nas formações, que já percorreram o Inter Sudeste e o Inter Nordeste da Rede Cáritas.



Momento de mística e espiritualidade no primeiro dia da formação. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira.


Crise Climática As mudanças climáticas e os seus impactos nas comunidades mais vulneráveis, e o grande desafio que a temática é para a sociedade mundial foi o mote do primeiro dia da oficina. “Aqui em Manaus, nós tivemos uma abordagem sobre esse tema, para problematizar quais são as ações que mais emitem gases de efeito estufa aqui no Brasil, agravando o aquecimento global, e quais são as estratégias adaptativas que já vêm sendo adotadas por diversas comunidades como resposta frente ao avanço das mudanças climáticas, de forma a se tornarem mais resilientes. Além disso, falamos sobre a importância de ações de mitigação que podem ser adotadas pelos governos para que, num futuro, essa emissão seja cessada. Cada vez mais a crise climática representa um grande desafio e tem pautado as necessidades das comunidades com as quais trabalhamos. Precisamos estar conscientes dessa crise e seus impactos no território brasileiro”, explica Mariana Estevo, assessora nacional de MAGRE. A formação explorou também o conteúdo de documentos importantes para a atuação em redução de riscos e emergências, como a Lei Federal 12.608/2012, que regula a atuação da Defesa Civil em todo o país, com diretrizes de ação e estratégias de controle e gestão de riscos destinadas para Municípios e Estados, e o Marco de Ação de Sendai para Redução de Riscos e Desastres, definido em 2015 durante a Assembleia do Escritório de Redução de Riscos de Desastres da ONU, no Japão. O Objetivo do Marco é reduzir os riscos ambientais por meio de ações integradas e inclusivas, em vários âmbitos sociais, como na economia, na saúde e educação. 

Momento de debate e reflexão sobre a crise climática. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira 

As reflexões foram animadas pelos relatos de experiência dos/as agentes Cáritas que atuam na região Norte, em uma realidade que tem o contexto do território amazônida. “Diante da realidade de emergências que nós sempre vivemos, com as cheias, secas e agora também as grandes tempestades, participar desse momento de formação é muito importante para ampliar os nossos conhecimentos e poder qualificar a nossa atuação no enfrentamento às situações de desastres ambientais nas nossas bases”, relata Francisca de Andrade Lima, a “Fran”, como é conhecida em Tefé, município do interior do Amazonas, onde ela atua como Vice-Presidente da Cáritas da Prelazia de Tefé, que faz parte da Articulação Norte 1 da Cáritas Brasileira no Norte. Já na Articulação Noroeste, os grandes empreendimentos são responsáveis por desastres ambientais que colocam a vida das comunidades em risco. “Para nosso território, toda a formação, trocas de experiência, a vivência da oficina é de urgente e imensa relevância, tendo em vista os impactos das mudanças climáticas amplificado pelas ações do capital via grandes empreendimentos, como usinas hidrelétricas, barragens e outros", explica Silvana Maria dos Santos Tomaz, agente Cáritas da Articulação Noroeste em Rondônia. Comunidades mais seguras


Tabuleiro e regras do jogo sendo utilizadas na oficina em Manaus. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Assim como nas outras etapas de formação para multiplicadores/as para Gestão de Riscos Comunitária do MAGRE, o “Jogo das Trilhas para Construção de Comunidades + Seguras Frente aos Desastres” foi o instrumento metodológico utilizado para nortear a ação de formação e multiplicação. “Nesse jogo, passamos por trechos que trazem conceitos sobre a Gestão Integral de Riscos para o fortalecimento do conhecimento dos/as agentes Cáritas nessa área”, diz Mariana. Para que a metodologia do jogo funcione em sua integralidade, é necessário que ela seja ministrada com a participação ativa da comunidade, passando por todos os trechos descritos no tabuleiro.


O jogo é aplicado em trechos, cada um com características que se complementam. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


O primeiro trecho do jogo trabalha com a sensibilização dos/as participantes para as situações de risco que podem existir nas comunidades em suas diferentes características. Essa etapa é importante para auxiliar os/as caminhantes (termo pelo qual o jogo se refere aos/as jogadores/as), no reconhecimento preliminar das comunidades onde as ações de Gestão de Riscos serão realizadas pelos/as agentes Cáritas. 


Reflexões e partilhas auxiliam na elaboração dos diagnósticos situacionais sobre riscos e emergências. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Nos trechos seguintes, são realizados diagnósticos participativos e reconhecimento prático da realidade das comunidades, com o auxílio de uma caminhada comunitária, integrando a presença de líderes e pessoas que habitam as comunidades onde o jogo pode ser aplicado. “Esse momento é importante para ampliar a nossa sensibilidade para o cotidiano em que vivemos aqui em Manaus. São práticas e expertises que podemos aplicar e auxiliar a melhorar a vida das nossas comunidades”, afirma Maria Idete, agente na Cáritas Arquidiocesana de Manaus. 


Primeiros trechos do jogo são voltados para sensibilização e diagnóstico de situações de risco nas comunidades. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira..


O Jogo das Trilhas é uma Tecnologia Social certificada, realizado com base em conhecimentos desenvolvidos sob autoria de pesquisadores do  grupo de pesquisa Gestão de Riscos e Desastres (GRID) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS). A versão mais atual do jogo, utilizada em Manaus, foi elaborada pelas consultoras Alexandra Cruz Passuello, Eloisa Maria Adami e Jocelei Tereza Bresolin. 


Caminhada comunitária


Parte da comunidade do Beco do Pescador, no bairro do Mauazinho, em Manaus. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira.


Como parte da programação da formação, no segundo dia foi organizada uma caminhada pela comunidade do Beco do Pescador, localizada no bairro de Mauazinho, na periferia de Manaus. Os/as agentes Cáritas tiveram a oportunidade de entender melhor a realidade do bairro, com o objetivo de mapear elementos de risco e ameaças de desastres, futuros ou iminentes. “Foi bem importante esse momento, pois nós pudemos unir o aprendizado teórico, para aprimorar nosso olhar para o reconhecimento das ameaças aos desastres. Nós conseguimos observar várias situações de risco aqui na Comunidade, desde riscos de deslizamentos e inundações”, conta o Articulador Diácono Amílson Silva, da Articulação Norte 3 em Tocantins. 


Agentes Cáritas em caminhada comunitária pela Comunidade do Beco do Pescador. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Durante o trajeto caminhante, os/as agentes Cáritas observaram os riscos em potencial e outros elementos que integram a gestão de emergências. Cada ponto era marcado em um mapa da comunidade, utilizado como instrumento de apoio aos/às participantes da formação. “A partir dos conhecimentos que fomos compartilhando nos momentos anteriores da oficina, nós conseguimos ver na prática,  junto com a comunidade, e vamos analisando esses riscos e os elementos que podem gerar alguma situação de emergência, além de prevenir possíveis desastres. Esse diagnóstico comunitário é representado nesse mapa interativo, construído pelas pessoas participantes da oficina”, explica Lucas D’Ávila, coordenador da área de atuação em MAGRE da Cáritas Brasileira. 


Percepção das áreas de possíveis riscos foram pontuadas em um mapa. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Participação Popular


Dona Rose, moradora do bairro Mauazinho, participou da oficina. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Assim como nas demais edições da oficina realizadas anteriormente com a Rede Cáritas, a caminhada em Manaus contou com a participação de pessoas de referência e lideranças comunitárias do bairro Mauazinho. O contexto social ilustrado pelos testemunhos das lideranças fortaleceu a oficina, integrando a visão social de quem convive cotidianamente na comunidade. Dona Rose, como é conhecida a Agente de Pastoral Maria Rosilene Glauberto Tavares, vive no Mauazinho, onde coordena um grupo de idosos e os representa no Fórum Permanente do Idoso do Amazonas, como vice- coordenadora da instância. 



Preparação para a escrita do Plano de Incidência Comunitário. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira 


Ela participou ativamente da oficina e sua experiência e atuação social foi de fundamental importância para reforçar os conhecimentos teóricos da oficina com a sua vivência. “Foi importante perceber pelo diálogo com as pessoas da formação, como os riscos ambientais podem afetar a nossa comunidade. Passamos todos os dias pelas ruas e muitas vezes não conseguimos enxergar que aquela situação pode oferecer algum risco em potencial”, relata Dona Rose, que participou da elaboração do Plano de Incidência Comunitário, documento síntese da formação. 



Caminhos

“Enquanto Inter Norte, eu penso que essa pauta (da Gestão de Riscos), deve ser cada vez mais fortalecida. Aqui nós tivemos a oportunidade de conhecer novas realidades e foi muito rica essa troca de vivências e experiências. Precisamos continuar esses momentos de encontros, para que a gente consiga seguir aperfeiçoando as nossas ações”, diz Ivanilde Silva, secretária do Regional Norte 2.


“Agora vamos multiplicar essa experiência em nossa rede aqui no Norte”. Márcia Miranda, Articuladora Regional da Rede Cáritas no Norte. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Após a oficina, os/as agentes Cáritas do território amazônida saíram com o compromisso de multiplicar os conhecimentos em seus territórios, observando as particularidades de cada localidade para promover uma gestão de riscos participativa, integrada às comunidades. “Quando buscamos mecanismos para atuar nessa área, nos sentimos empoderados de conhecimento para melhor fundamentar nossas bases sobre os riscos ambientais que existem em nossos territórios. Agora vamos multiplicar essa experiência em nossa rede aqui no Norte”, conta Márcia Miranda, articuladora Regional na Articulação Norte 1 em Manaus. 


Fortalecimento da rede Cáritas em resposta às emergências é um dos objetivos da oficina. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


A próxima edição da Oficina será no Inter Sul, entre os dias 20 e 23 de abril, com as referências da rede Cáritas na região. 


Parcerias

Uma visita ao Instituto Juruá, que tem sua sede em Manaus, também fez parte da agenda do MAGRE na região Norte. O objetivo da visita foi trocar vivências e experiências de atuação entre as duas organizações, para firmar possíveis parcerias futuras no enfrentamento aos desastres ambientais na região frente ao avanço da crise climática. “A Cáritas, assim como outras organizações da igreja tem uma atuação muito interessante de estar com a base, de pensar estratégias, soluções e formas de fomentar a autonomia e organização das bases. Esse histórico tem grande importância na Amazônia”, diz João Vitor Campos-Silva, diretor do Instituto Juruá. A organização atua em território amazônida, principalmente em duas unidades de conservação de uso sustentável localizadas na região do médio rio Juruá, no município de Carauari, no Amazonas, contribuindo no fortalecimento regional pela valorização dos povos e comunidades tradicionais, visando um futuro sustentável e socialmente justo para a Amazônia. 


Confira mais fotos da oficina no nosso Flickr, pelo link: https://flic.kr/s/aHBqjAym1q

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